“Quarta revolução industrial surge da conectividade e caminha para
a comunicação entre produtos e máquinas dotados de inteligência artificial”
A Indústria 4.0 está surgindo da interligação entre os mundos digital e real.
Hoje em dia, de qualquer lugar, basta utilizar um celular para descobrir, em tempo real,
diversas informações importantes como, por exemplo, se o seu voo vai atrasar. Ou mesmo rastrear
encomendas com poucos cliques de um notebook, tablet ou smartphone. As redes de dispositivos
de acesso, pessoas e sistemas de informação também estão preparando a indústria do futuro.
Por isso, especialistas concordam que a “Quarta Revolução Industrial” logo será realidade.
Um exemplo é a crescente automatização dos processos de produção. E reforçando esta tendência
está o desenvolvimento dos sistemas inteligentes para monitoramento e tomada de decisões.
Isso é possível por meio da chamada Web Semântica. Para explicar melhor sobre como será a
indústria do futuro e as tendências que estão chegando, a Revista SMC em Foco convidou o
porta-voz da Associação Brasileira de Automação – GS1 Brasil, Edson Matos de Lima, para participar
da seção Entrevista. Confira o que ele disse.
SMC: Como o senhor vislumbra a indústria do futuro?
Lima: A indústria do futuro estará conectada de forma direta com o seu consumidor.
Com a popularização da Web Semântica, ela poderá compreender
melhor o consumidor e o seu comportamento durante todo o processo de
escolha de um produto. Como vemos hoje, a Web Semântica é uma extensão
da internet e, através dela, a indústria poderá entender os motivos que levaram
o consumidor a escolher o seu produto e fará com que eles estejam cada vez
mais adaptados a estes clientes. Outra tendência é a impressão 3D,
bem como a identificação por radiofrequência (RFID). Trabalhando em conjunto
desde a manufatura dos produtos, esta nova tecnologia possibilita a
inclusão de etiquetas RFID na produção. Sendo assim, cada item pode ser
identificado desde a sua fonte, o que facilita o processo de rastreabilidade.
SMC: Como o aumento na interconectividade
está transformando as indústrias?
Lima: A indústria está deixando de pensar como um ambiente isolado e
passando a se enxergar dentro de um ecossistema que precisa estar em comunicação
constante para que todos tenham benefícios. Os custos de matérias-
primas estão cada vez mais altos e não há previsão de que irão diminuir
em um futuro próximo. Os custos para produção acompanham a mesma alta,
então a única forma pela qual a indústria pode continuar competitiva é reduzindo
o custo de processos com a automação. Para que o setor industrial
possa manter-se sustentável, é necessário que os integrantes deste segmento
compreendam que a adoção de padrões para a cadeia de suprimentos
auxilia na diminuição dos gastos logísticos em geral.
SMC: A automação de processos de produção é o primeiro passo para a 4.0?
Lima: Sim, pois facilita a produção de produtos mais inteligentes e de forma
mais coerente, fazendo com que as inovações alcancem maior número de
pessoas. Porém, para que cheguemos a um estágio no qual todos os itens
do seu dia a dia conversem e interajam para auxiliar em nossa rotina, precisamos
dar alguns passos importantes. Primeiramente, temos de definir os
padrões de comunicação, afinal, de nada adianta possuir uma casa
onde todos os itens são capazes de conversar, mas cada um “fala uma
língua diferente”.
SMC: Quais considerações as indústrias devem fazer?
Lima: Outro fator que deve ser considerado é a privacidade das informações,
pois se todos os equipamentos estão conectados, os dados que coletam
para fazer processamentos estarão disponíveis e possivelmente vulneráveis.
Ocorreu um caso recente com as Smart TVs, que gravam as conversas
das pessoas para melhorar os algoritmos de reconhecimento de voz, no
entanto, gravam também conversas particulares que podem ser utilizadas
de forma indevida.
SMC: Como o desenvolvimento dos sistemas inteligentes está evoluindo?
Lima: Os equipamentos industriais estão cada dia mais modernos e nos
fornecendo um maior número de informações sobre as variáveis do
ambiente. Esta grande quantidade de dados nos possibilita tirar mais informações
que permitem o melhor planejamento das manutenções, além de
atingir mais capacidade produtiva e otimizar o uso de mão de obra. Por
outro lado, são necessários sistemas de informação cada vez mais robustos e
inteligentes para fazer com que esta grande quantidade de dados vire
informação. Apenas baseado na informação é que podemos tomar melhores
decisões sobre os processos, pois de nada adianta coletar ou ter disponível
centenas de dados se não os transformarmos em conhecimento para a
melhor tomada de decisões.
SMC: Como a GS1 vê esses movimentos?
Lima: Vemos esses movimentos ligados à nossa atuação de disseminar o
Sistema GS1 (padrões) em todos os setores de negócio do País, buscando
levar eficiência ao maior número de empresas e inserir as pequenas e médias
nas suas respectivas cadeias de suprimentos. A GS1 Brasil coordena
grupos de trabalhos em diversos setores, nos quais empresas se reúnem
para discutir padrões comuns e práticas de negócios eficientes.
SMC: Quais são os novos conceitos para aprimorar a gestão e os
processos logísticos?
Lima: O conceito de informação em tempo real que temos maior
avanço é a RFID (identificação por radiofrequência).
SMC: Quais ferramentas são úteis para as empresas se conectarem com
toda a cadeia de suprimentos além da gestão e dos processos internos?
Lima: Uma ferramenta eficiente é o Padrão EPCIS (EPC Information
Services Standard) da GS1, que permite que parceiros comerciais compartilhem
informações sobre o movimento físico e o status de produtos ao longo
da cadeia de suprimentos. Além disso, a popularização da RFID vem auxiliando
no aumento expressivo do controle de estoque e diminuindo
consideravelmente o tempo de inventário das empresas.
Fonte: http://www.smcbr.com.br/
Revista: SMC EM FOCO – N° 64 – agosto/setembro 2015